terça-feira, 29 de janeiro de 2013

CAPÍTULO 03


Os eventos que se sucederem após aquele estranho encontro em nada lembravam as palavras da cigana, pelo contrário. Daniela retomou sua vida que, por sua vez, seguiu o curso que a ela pareceu totalmente sob seu controle e vontade. As palavras da cigana ficaram esquecidas em algum local de sua mente que, conscientemente, Daniela colocou. Continuou dedicada ao seu trabalho e as suas conquistas. A facilidade com que as mulheres apareciam na sua vida se igualava a forma como desapareciam. Não se ligava a ninguém por muito tempo. Angélica já estava lhe causando aquela sensação que tanto abominava... A rotina. Assim os encontros se tornavam mais raros, começou a inventar desculpas e quando se encontravam, Daniela já estava em companhia de outra.


Inka entendeu a situação como efeito da confusão e total descontrole emocional que se encontrava em virtude da pressão que recebeu de Raul naquela manhã. Percebeu que seus sentidos a traiam em situações de desgaste emocional. Assim tratou de esquecer o episódio e a mulher que a fizeram perder, por alguns momentos,  as suas convicções sobre suas próprias emoções e interesses no que se refere a sua sexualidade. Era assediada por muitos homens e na maioria das vezes se esquivava delicadamente dos convites que recebia para sair, embora sentisse certa atração por alguns evitava encontros que sabia que seriam apenas com o intuito de sexo. Para ela o sexo tinha que ser acompanhado de amor. Um dos motivos que a fez terminar com Raul, pois depois de oito meses de namoro, percebeu que o que sentia por ele nada mais era do que carinho e amizade. Mas, apesar de acreditar que era bem resolvida com relação a sua sexualidade, procurou firma-la das mais diferentes formas. Saiu com alguns homens que considerou corresponderem ao seu par ideal, até o momento nenhum havia conseguido mais do que um jantar ou um cinema sem maiores envolvimentos. O que para ela não era problema, pois tinha certeza que em algum momento o amor viria até ela. Tinham sido estas as palavras de sua avó... Há muitos anos atrás.


Mas o destino, aliado do tempo, sem pressa tratou de costurar nas suas reentrâncias mais escondidas o caminho, cuja porta foi aberta em algum lugar do passado e por algum evento que, inconscientemente, foi acionado por ambas. Apesar da descrença de uma e a negação da outra, não havia mais volta. Mas elas... Ainda não sabiam.     


Uma semana depois... 

Daniela dirigia absorta nos projetos que tinha que entregar até segunda, iria trabalhar o final de semana inteiro, parou na sinaleira em frente ao shopping e quase que imediatamente lembrou-se da cigana. O sinal abriu, arrancou e seu pensamento se voltou para as palavras daquela cigana linda... Recapitulou todos os movimentos dela e imaginou encostar naqueles lábios cheios... “Ah que loucura... Cigana maluca... Mas deliciosa...” Sorriu com seu pensamento... Só percebeu o homem que saiu da calçada em direção a rua no último momento... Só teve tempo de virar o volante para a esquerda para não atropelá-lo... Fez uma escolha... E cortou a frente de uma EcoSport que vinha na pista ao lado... Com o choque, o seu carro, por ser mais leve, foi arrastado por alguns metros e rodou duas vezes na pista  batendo em outros dois carros que estavam parados. Bateu a testa no volante, mas não perdeu os sentidos... Recuperou-se do susto e saiu do carro, preocupada com a pessoa que estava no outro carro... Quando se aproximou percebeu que o carro estava com a frente destruída,  não havia mais ninguém no carro e as pessoas acumulavam-se ao seu redor...


- Quem estava dirigindo este carro? - Perguntou assustada... Viu que escorria  sangue de sua testa... Alguém alcançou um lenço, ela colocou no corte.

- Aquela senhora ali... - Alguém apontou... E Daniela olhou na direção indicada... Ela  estava sentada no meio fio, com a cabeça baixa. Sentiu que suas pernas falharam... “A cigana...”  Mas caminhou em sua direção...

- Você está bem? - A voz saiu fraca... Pois precisou de forças para assumir o controle de suas emoções...


Ela levantou os olhos em minha direção e novamente nossos olhares se encontraram... A surpresa que ela teve foi do tamanho da minha vontade de abraçá-la...

- Você... - Levantou-se com dificuldade segurando a perna. Fui em direção a ela e amparei-a. Fiz sentar-se novamente, me olhou assustada - Você está sangrando? - Completou.

- Foi um arranhão... Acho que provoquei isso tudo... - Falei olhando ao redor.

Cada vez mais  os curiosos aglomeravam. Olhei novamente para ela. Estava diferente. Vestia um jeans e uma camiseta  preta. Estava linda... Os cabelos presos atrás de forma displicente. Desviou do meu olhar.

- Você é louca? Por que se atravessou na minha frente? - Perguntou.

- Eu... Eu... Me desculpa... Estava distraída e... E quando vi um homem apareceu na minha frente e tentei evitar de atropelá-lo... Acabei causando isso... Eu... - Falava nervosa...

As pessoas ao nosso redor... Toda minha segurança me abandonou... “Que poder ela tem sobre mim...” Pensei. Me sentia completamente perdida...

- Se andasse devagar ou com mais atenção teria evitado isso! - Estava brava.

- Ei... Calma... Estamos bem não é?

- Droga! - Falou tentando levantar-se novamente, segurei seu braço...

- Não levanta, já chamaram a ambulância.

- Me deixa em paz!

- Não precisa gritar!

Nossa discussão foi interrompida pela ambulância. Depois dos primeiros atendimentos levaram-na para a ambulância, fui até a porta e antes de fecharem ela me olhou e falou indignada:

- Da próxima vez olhe pelo espelho!

Senti meu sangue ferver... Respondi:

- Da próxima use seus poderes e evite!

Me olhou com raiva...

- Idiota!

- Estúpida!

Fiquei observando a ambulância se afastar... “O que está acontecendo?”


Liguei para Daniel, meu irmão, que em menos de vinte minutos estava ali ao meu lado já acertando os detalhes com a seguradora, com a policia de trânsito que ouvia as testemunhas que confirmaram o meu depoimento e com os outros proprietários dos veículos que estavam estacionados e que haviam sido atingidos. Depois de algum tempo e de resolvermos todas as questões saímos em direção ao meu apartamento. Mas não conseguia tirar a cigana de meu pensamento e no caminho pedi para Daniel desviar para o hospital, pois queria saber como ela estava.

- Esse corte Dani... Não precisa de pontos?

- Claro que não, foi um arranhão Daniel. Não ta vendo?

- Ei calma...

- Desculpa, fiquei nervosa...


As informações nos levaram até o corredor onde uma senhora aguardava. Assim que nos aproximamos ela me olhou e imediatamente falou.

- Foi você?

A pergunta me pegou de surpresa... Respondi de forma ríspida:

- Fui eu o que?

Ela sorriu...

- Calma, não estou te acusando... Apenas perguntando. Foi você que se envolveu no acidente com minha sobrinha?

O forte sotaque espanhol me deu certeza que ela se referia a cigana. O olhar daquela senhora me tranquilizou. Senti ternura, cumplicidade e algo que me fez sentir vontade de conhecê-la, conversar com ela... Não consegui entender.

- Sim, fui eu sim. E... Como ela está?

- Estou aguardando, pois ela entrou para fazer uma radiografia do joelho. -Acho que percebeu meu olhar assustado, logo completou: - Mas não é nada grave, tenho certeza... - Sorriu amavelmente... Complementou: - E os médicos também...

Correspondi ao sorriso dela.

- Como se chamam, filhos?

- Meu nome é Daniela, e este é meu irmão Daniel.

Daniel se aproximou e estendeu a mão a ela.

- Prazer, senhora...?

- Vana. Meu nome é Vana e o prazer é meu.

- Vamos nos sentar e aguardar, então.

Daniel conduziu-a ao sofá que havia no corredor e eu fiquei observando aquela mulher se afastar... “Ciganas...! O que mais vem pela frente ainda?” Pensei, pois tinha opinião formada sobre elas e, assim como a maioria das pessoas que conheço... Essa opinião não é das melhores... Caminhei até onde estavam e sentei ao lado deles.

Em menos de uma hora, Daniel fez um resumo de nossa vida. Contou que nossos pais moravam no interior do Estado, que tínhamos um escritório de engenharia no centro da cidade, que éramos dois engenheiros e mais um arquiteto, Paulo, nosso amigo. Falou que morávamos juntos, mas que há dois anos ele havia decidido viver com a namorada, portanto eu morava sozinha. Disse que tinha 32 anos, que eu tinha 28... Naquela altura eu já estava impaciente. Não aguentava mais ouvir as risadas de meu simpático irmão e da cigana. Queria saber, ou melhor ver a outra. De repente perguntei:

- Como é o nome dela? - Os dois me olharam surpresos.

- Minha sobrinha chama-se Inka. - A cigana respondeu sorrindo. Paulo me repreendeu com o olhar.

- Será que vai demorar muito ainda? - Perguntei.

- Filhos, não precisam esperar, digo a Inka que estiveram aqui. - A cigana falou.

- Não. Esperamos mais um pouco. - Respondi rapidamente.

- A conversa está ótima. Por mim não tem problema, mas conte-nos de vocês... - Meu irmão, como sempre, simpático.

- Bem... Estamos no Brasil há alguns anos. E como já perceberam somos ciganas, pertencemos a uma etnia da região da Andaluzia, na Espanha. - Ela baixou a cabeça, percebemos constrangimento, sorriu e continuou:  – Temos uma loja no shopping de artigos esotéricos, minha sobrinha que toma conta, ajudo-a sempre que possível, me dedico mais a... Bem... Gosto de cultivar ervas medicinais e tenho em casa um pequeno herbário que me toma o tempo... E... Atendemos muitas pessoas que buscam ajuda e conselhos... E assim vamos dividindo as tarefas...

Nesse instante a porta abre-se e passa por ela um homem de branco, que deduzi ser o médico empurrando a cadeira de rodas, na qual ela estava sentada, assim que nos viu levantou-se:

- Não preciso disso... - Falou tentando firmar-se, mas não conseguiu... Meu irmão rapidamente a segurou... Fiquei parada assistindo a cena. Nossos olhares se cruzaram... Caminhei em sua direção...

A CIGANA

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OBS IMPORTANTE: 
A história não está completa, disponibilizamos apenas os três primeiros capítulos para degustação.

10 comentários:

  1. Estou adorando,só esta começando,mas já da indícius de ser eletrizante!!

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  2. Ahhh... O amor... Meu amor por esse conto é atemporal...
    Belíssimo...

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  3. Muitoo Bom.
    Qria viver algo assim. *-*
    Um Amor, Do nada. Nossa.
    Otimooo. Estou amando. esperando pelo proximo cap.

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  4. Maravilhoso...

    Mas a minha opinião não é novidade nenhuma...

    Meu cto preferido sem palavras prá definir melhor.

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  5. Ahhhh! Ameeeeiii!
    Uma tortura esperar as outras postagens!
    Mas admito que não é de uma hora para outra que você tem tempo para digitar. Continue com os belos trabalhos!

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  6. Aguardando loucamente pelo cap:17,essa história tá maravilhosa,é de prender!!

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  7. gente eu preciso urgente ler outro capítulo

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